No último fim de semana fui ao Museu da Lingua Portuguesa na estação da Luz em São Paulo. E posso dizer que a visita superou minhas expectativas. Não vou falar aqui os motivos senão acabaria escrevendo páginas, mas deixo a dica para que vão e descubram!
Abaixo segue dois poemas que ouvi lá e que achei muito bons, mas não sei como descrevê-los. E é o que acontece com a boa arte: mexe com a gente sem ser necessário explicações.
O Seu Santo Nome
(Carlos Drumond de Andrade)
Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão ( e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie
Trecho do Memórias de Emília
(Monteiro Lobato)
“A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre – perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?”